Valdinei Valério

O mundo passa por uma destruição de nações e vidas que abala nossas esperanças de ter um planeta em paz e harmonia. Os conflitos entre Ucrânia e Rússia e Israel, Hamas e Palestina, parecem muito distantes da nossa realidade, mas as consequências afetam diretamente nossa produção de alimentos, encarecimento dos preços, e os impactos humanitários, como temos acompanhado a luta de família em busca da libertação de refém e repatriação de parentes e amigos.

E, agora, vivemos a iminente possibilidade de uma guerra praticamente dentro do nosso território, com a disputa de territórios entre Venezuela e Guiana. Além da possibilidade de usarem o Brasil como passagem para invasões e ataques, a crise de refugiados que o conflito pode gerar afetaria diretamente nosso país, que já recebe milhares de venezuelanos todos os anos em busca de melhores condições de vida.

Mas o que isso tem a ver com educação? O primeiro impacto das guerras no ensino e aprendizagem é a suspensão das aulas, fenômeno que já enfrentamos globalmente durante a pandemia e ainda lutamos contra as consequências na vida de crianças e jovens. E por que fazemos essa analogia entre as guerras armadas e devastadoras com a educação? A resposta é que, se não entrarmos em guerra contra as desigualdades e desestruturação do ensino, o nosso futuro enquanto nação estará ameaçado.

A guerra que temos de traçar, e de fato nos propor a lutar com a mesma força que dos países que atacam uns aos outros, é a guerra em favor da educação, onde não há feridos, não há mortos. Pelo contrário, quando ela é de fato implementada os resultados são avassaladores, positivamente, no mercado de trabalho, com pessoas mais qualificadas, no empreendedorismo, no enfrentamento às desigualdades sociais.

Sabemos que é uma guerra difícil de travar. São muitos anos de luta que nós, da sociedade civil organizada, declaramos e nos posicionamos frente a governos e instituições globais que defendem ou estudam a educação. A Unesco, por exemplo, aponta práticas para a educação como cidadania global, por meio de alguns parâmetros que podemos utilizar nessa guerra pela educação, como o uso de tecnologias de informação e comunicação; abordagens baseadas no esporte, nas artes e na comunidade; formação de professores; iniciativas lideradas por jovens e monitoramento e mensuração da educação.

Outro ponto defendido pela Unesco, e que corroboramos e colocamos em prática no Instituto Promover – Iphac, é que a formação de cidadãos globais vai além da educação. É necessário haver um engajamento entre múltiplos setores, atores e níveis a fim de obter um impacto duradouro. “Não é apenas o setor educação que deve trabalhar para isso, e sim todos nós”, explicou Qian Tang, diretor-geral assistente de Educação da Unesco.

E a conclusão do pensamento de Qian Tang é certeiro para que possamos, em um futuro próximo e promissor, vencer essa guerra pela educação. “Esse é um esforço conjunto de todas as partes interessadas, a fim de assegurar que os jovens e a geração jovem possam ter acesso a aprendizagem, de forma a que possam conseguir trabalho e construir um futuro melhor para o amanhã”.

*Valdinei Valério é presidente do Instituto Promover e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Nacional de La Matanza, Argentina

Compartilhe esse post:

você pode gostar...