A taxa de jovens brasileiros, entre 18 e 24 anos, que não estudam nem trabalham, a chamada “geração nem-nem”, alcançou 35,9% em 2020, segundo relatório da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta quinta-feira, 16.
O dado é preocupante e levanta o alerta sobre o futuro dos jovens brasileiros. O Iphac – Instituto Promover – já abordou essa pauta e acredita que a solução está nas mãos das instituições de formação de jovens e dos empregadores.
“As políticas públicas para manter esses jovens na escola também são fundamentais, visto que o primeiro emprego e estágio estão intrinsicamente ligados à permanência na sala de aula. É uma via de mão dupla”, ressalta o presidente do Iphac, Valdinei Valério.
O impacto da pandemia é o fator mais determinante para o crescimento deste número. “Em tempos econômicos difíceis, a transição da escola para o trabalho, que é sempre complicada, torna-se realmente problemática”, aponta o relatório.
A discrepância é ainda maior quando se compara os países ricos com os países pobres. Na média da OCDE, que inclui os países mais ricos, a taxa de jovens que não estudam nem trabalham é de 15,1%. As políticas de incentivo à escola e ao trabalho aplicadas em tais países, devem ser observadas e reproduzidas.
De acordo com o relatório, só um terço dos jovens brasileiros, de 18 a 24 anos, frequentam escolas ou faculdades. Três em cada dez jovens nessa faixa etária estão empregados, apesar de não frequentarem a escola ou um curso superior, mas 13% não estão nem na escola nem empregados.
Valdinei Valério ainda acrescenta o dado de que durante a pandemia, o Brasil teve – e ainda tem – dificuldades em manter os jovens engajados nas aulas remotas e a triste expectativa é que boa parte deles não deve voltar para a sala de aula.
Além disso, a queda na renda das famílias levou esse grupo a buscar emprego, ao mesmo tempo em que o acesso ao ensino superior se tornou mais difícil no Brasil. Esse segundo ponto é comprovado pela mais baixa adesão ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2020.
Estar na escola é um desafio. Encontrar um emprego também não é fácil. Segundo a OCDE, a taxa de desemprego entre jovens adultos de 25 a 34 anos que não completaram a educação básica foi de 17,8% em 2020, 3 pontos porcentuais acima do que foi registrado no ano anterior.
“A pandemia pesou a mão sobre este grupo e revelou ainda mais o abismo da desigualdade”, lamenta Valdinei. O relatório da OCDE aponta que mulheres têm ainda mais dificuldade de se posicionar no mercado de trabalho, mesmo sendo mais capacitadas profissionalmente.
As pessoas negras, pardas e indígenas representam mais de 50% de abstenção no Enem, de acordo com um levantamento feito pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp).
“A conclusão que se chega é de que apenas a educação, junto com políticas de aprendizagem, pode melhorar a vida de milhões de brasileiros, igualando as chances e oferecendo acesso às mesmas oportunidades. As políticas de incentivo devem se concentrar em quem mais precisa”, finaliza Valdinei Valério.