Uma cidade de mais de 120 mil habitantes, conhecida como a princesa do norte do Espírito Santo, abriga riquezas, mas também situações de extrema vulnerabilidade social. Esse cenário foi observado pelas equipes do Iphac – Instituto Promover em Colatina, durante visitas para implantação do Centro de Referência das Juventudes (CRJ).
“Nossas visitas são momentos únicos, cada uma um aprendizado. Ao caminhar pelo território onde o CRJ está instalado, podemos observar e aprender muito, por se tratar de um bairro com mais de 15 mil habitantes, que podemos comparar com algumas cidades”, conta a articuladora social Maria Neuza Marçal dos Santos.
A presença das equipes do Instituto nos bairros Ayrton Senna, Vicente Soella e João Meneghelli deixou as comunidades curiosas e com grande expectativa para os trabalhos do CRJ. Os comerciantes abriram as portas para a colagem dos cartazes e foi possível ouvir relatos de que a iniciativa será muito boa para a juventude.
Nas ruas e becos da região, muitos adolescentes estavam trabalhando (eles se referem ao trabalho, mas na verdade atuam na venda ou entrega de drogas). Durante a abordagem, eles mencionaram a vontade de fazer um curso profissionalizante, para sair daquela realidade e ter a oportunidade de um futuro fora do tráfico.
A articuladora social Marisol de Almeida Correia, que também participou da ação, relatou que no bairro Ayrton Senna, durante a noite, conversou com os jovens e a maioria não tem emprego, porque moram naquele bairro, que é característico pelo tráfico de drogas e sofrem preconceito de empregadores. Além da preocupação de jovens de 14, 15 anos que tem medo de serem mortos ou presos.
“A nossa equipe de articulação e transversalidade busca divulgar e articular com o território, criando pertencimento da comunidade, por meio de parcerias com os equipamentos públicos e privados para mobilizar as juventudes locais”, reforça a articuladora.
E apesar da realidade desfavorável da comunidade, ao percorrer os estabelecimentos comerciais, a equipe do Iphac percebeu que os pequenos empresários têm vontade de mudar a realidade dos jovens e oferecem ajuda. “O dono de uma loja de materiais de construção só contrata morador do bairro e até sugeriu alguns cursos, pois os jovens que ele contrata precisam com urgência”, relata Marisol.
Mulheres em vulnerabilidade
O tráfico de drogas e a discriminação das comunidades do entorno do Centro de Referência é um dos principais problemas. Mas vimos também a situação das mulheres, ainda mais vulneráveis. A articuladora Maria Neuza visitou uma comunidade cigana e, durante diálogo com as mulheres, percebeu o quanto elas são dependentes e submissas aos homens. “Elas chegam a acreditar que não são dignas de direitos humanos e, por isso, estamos fazendo um trabalho de fortalecimento de vínculos com aquelas mulheres”.
Em outro momento marcante, na visita a uma unidade de saúde, as articuladoras observaram a quantidade de grávidas jovens e sem formação profissional. Algumas relatam não ter a oportunidade de estudar ou trabalhar, pois enfrentam dificuldades financeiras e ainda a necessidade de cuidar de outras crianças.
É o caso da adolescente Letícia. Ela é garota de programa e queria muito voltar a estudar e fazer um curso profissionalizante. Mas como ela precisa trabalhar para cuidar dos irmãos mais novos, porque o pai e a mãe estão presos, ela não viu outra alternativa a não ser se prostituir. “Ela falou que o sonho dela era fazer bolo, comida e também atuar na área da beleza”, conta Marisol.
Com o Centro de Referência das Juventudes, a realidade de jovens das comunidades vulneráveis de Colatina vai mudar. E histórias como a da Letícia e várias outras terão um final diferente. Assim como a de jovens de uma escola na zona rural, na qual a equipe do Iphac conheceu a realidade de jovens que não querem trabalhar na roça. “Eles querem fazer um curso profissionalizante mudar de vida e isso será possível com nosso trabalho”, finalizar a articuladora Marisol de Almeida.